terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Quaresma tempo de oração, fraternidade e comunhão

Caros Diocesanos! 
Acreditai, segui e imitai Cristo, Rosto do Pai e Redentor do homem. Durante a Quaresma, praticai o jejum, a oração e a esmola, esperando o Ressuscitado, que virá transformar o corpo mortal, para o tornar semelhante ao Seu Corpo Glorioso. Convido-vos a ler a Mensagem Quaresmal do Papa Francisco, sobre a parábola do rico opulento e do pobre Lázaro (Lc 16,19-20), vendo, na palavra e no outro, dons de Deus e abraçando o justo modo de agir, na solidariedade. A resposta ao outro e à palavra enriquece. No diálogo não há vencedores nem vencidos, mas enriquecidos. Trata-se de dois modos opostos de ver e de agir: o de cultivar a relação com o outro, que salva e enriquece, ou o de ver a relação de amor e dom ao outro, como limite e agressão. O Papa Francisco, optimista, diz que tanto o outro como a palavra são dons, ao contrário do pessimismo de Sartre que disse: “os outros são o inferno”. De facto, a relação e o encontro são fontes de alegria e comunhão, que nos enriquecem a nós e aos outros.

1.- O Papa enaltece a escuta, a acção de graças, a busca e o louvor de Deus, na oração; o auto-domínio, a ascese e moderação salutar do jejum; e a solidariedade, partilha de dons e afectos, dando o supérfluo a quem precisa. Louva o dom da Palavra e o dom da Pessoa, a relação pessoal, a solidariedade, que gera e potencia a riqueza e o mistério do ser humano, que toma consciência de si e cresce, na comunhão e no diálogo. A vida ganha-se e expressa-se, na relação, com Deus e os outros. Deus, Trindade de relações subsistentes, na Unidade Divina, criou-nos, para vivermos, em relação pessoal, com Ele e com os outros, no amor. No princípio, está sempre a verdadeira relação humana a estabelecer, a cultivar e expressar, com Deus e com os outros seres humanos. 

2.- Deus criou o homem e a mulher, para serem uma só carne e uma família. O género humano deve ser uma família alargada, na abertura e no diálogo, e reflexo do mistério divino da Unidade, na Trindade. Deus quer a comunhão dos humanos, como espelho da Unidade e da Trindade divinas, para fazer de todos um povo, na abertura e unidade. O pecado quebra a unidade, divide, gera aversão, inimizade e abandono, faz dos seres humanos inimigos uns dos outros, corta a relação valorativa e preferencial, com Deus e com o próximo. O sangue de Abel brada ao céu, contra Caim, rompe a solidariedade, cria a desunião. O culpado diz: sou eu, porventura, o guarda do meu irmão? (Gen. 4,9). A violência, a rejeição do cuidado e a indiferença colocam a sociedade, em terreno resvaladiço, aberto aos desmandos, injustiças e atropelos à dignidade humana e à liberdade, que deixam de ser reconhecidas, por aqueles que perdem a consideração pelo outro e absolutizam e endeusam o interesse próprio e o dinheiro.

3.- Que a Quaresma nos ajude a encontrar Deus, nos necessitados, certos de que Ele é acessível e quer ser encontrado na palavra, nos sacramentos e no ser humano. A vida é ascensão e encontro, com Deus, servindo os irmãos, conscientes de que, quer a palavra de Deus, quer os sacramentos, quer os outros são dons, que Deus nos dá, para nos relacionarmos, crescermos e construirmos, contribuindo para a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte, vivendo de conversão em conversão e procurando ser, hoje, melhores do que ontem e, amanhã, melhores do que hoje, numa sociedade cada vez mais conforme aos desígnios de Deus.

4. O Jejum e a Abstinência devem entender-se e praticar-se, nos variados contextos, situações e necessidades, atendendo ao bem maior, ao supremo primado de Deus e às necessidades concretas das pessoas, segundo a justa hierarquia de valores a preservar e a fomentar. Assim, cada cristão verá aquilo de que se deve privar, tendo em conta as necessidades concretas dos necessitados, que vivem à sua volta, lembrando que os pobres são os preferidos de Deus, que quer ser reconhecido, servido e amado, neles. 

5.- A Diocese de Vila Real aponta duas necessidades emblemáticas, para as quais será canalizado, em partes iguais, o dinheiro recolhido da Renúncia Voluntária:
a) – O Centro de Apoio à Vida, para ajudar as Grávidas Adolescentes, na gravidez e na alimentação dos filhos. É uma valência da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, que deve ser ajudada, pois, não basta levantar o dedo e denunciar os atentados à vida, é preciso ajudar as pessoas, necessitadas. A vida é fundamental e irrenunciável direito e tudo é pouco o que se faz por ela. Exorto, pois, os fiéis a patrocinar esta causa.
b) – Outra é a tragédia dos irmãos nossos, sem eira nem beira, que nos batem à porta. Trata-se de ajudar, a nível local e diocesano, os Refugiados e, em especial, Crianças e Adolescentes. Esta missão está entregue à Caritas Diocesana.
Que Deus nos ajude a minorar o sofrimento dos necessitados e a ouvir o Supremo Juiz: “vinde benditos de Meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado, desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era peregrino e recolhestes-me; estava nu e vestistes-me; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes ter comigo” ( Mt. 25, 34-36 ).  

Que Deus, que é Amor, vos encha de paz e consolação, vos confirme na fé e na prática das boas Obras de Misericórdia, para crescerdes, na alegria e obterdes a glória eterna. Com votos de Santa e Feliz Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, peço que Ele vos abençoa e mantenha, sempre, no seu santo serviço. Amen.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

COLONIZAÇÃO IDEOLÓGICA

          O Papa Francisco já por várias vezes usou a expressão “colonização ideológica” para criticar a tentativa de imposição da “ideologia do género”, designadamente no âmbito do ensino, encarado como um meio eficaz de doutrinação e transformação da mentalidade corrente. Pretende-se que as crianças, desde a mais tenra idade, se habituem à ideia de que o género será uma escolha independente do sexo de nascença e de que não haverá modelos de família de referência, como não serão modelos de referência a paternidade e a maternidade.
            
           Parece-me adequada a expressão “colonização ideológica”, por dois motivos.

Por um lado, porque estamos perante uma notória tentativa de sobreposição da ideologia à realidade, confirmando aquilo que já se disse a este respeito: se os factos não confirmam a ideologia, «tanto pior para os factos».

Assim, em nome da ideologia, pretende-se negar, ou tornar irrelevante, a biologia, como se a pessoa não fosse uma unidade que a integra. Advoga-se a licitude das cirurgias de mudanças de sexo, e até do bloqueio da evolução pubertária em crianças e jovens pretensamente “transgénero”, tudo com base numa perceção subjetiva contrária aos dados objetivos. Especialistas consideram estas práticas uma «perigosa experiência de engenharia social», «baseada na ideologia e não na ciência», salientando que a grande maioria de casos de “disforia de género” em menores são superados, sendo que o bloqueio da evolução pubertária acarreta graves e irreversíveis danos. Também são muitos os casos de pessoas que se arrependem de cirurgias de “mudança de sexo” (ver www.sexchangeregret.com), mudança que acaba por ser ilusória, dada a dimensão genética do sexo, que é imutável. O psiquiatra Paul Mc Hugh afirma que essas práticas mascaram e exacerbam o problema da “disforia de género”, sem o resolver, que delas resultam apenas homens efeminados e mulheres masculinizadas, e não quaisquer verdadeiras mudanças de sexo.

Também é uma negação da realidade a regra (que se pretende impor) de frequência de casas de banho, balneários e dormitórios segundo o “género” e não segundo o sexo biológico: afinal, são só as diferenças biológicas, e não outras, as que justificam a separação.

Por outro lado, deve falar-se em “colonização” porque não estamos perante uma espontânea transformação de mentalidades, pretende-se que esta seja imposta coercivamente.

Leis como as que vigoram em várias comunidades autónomas espanholas impõem a “ideologia de género” até em escolas não estatais. Invocando essa legislação  contra a “homofobia” e “transfobia”, já têm sido apresentadas queixas criminais contra bispos (como os de Pamplona e de Valência) que expõem a doutrina da Igreja contrária a tal ideologia (sem ofender as pessoas). Pelos mesmos motivos, foi recentemente condenado em multa o diretor de um colégio espanhol.

Essas leis proibem também, sob pena de severas sanções, qualquer terapia de mudança de orientação sexual não desejada ou de mudança de identidade de género não desejada (mesmo que estas possam revelar-se eficazes). Mas já admitem, sem restrições, cirurgias de “mudança de sexo”.  Mais, nos Estados Unidos, o Gender Identity Mandate obsta à invocação da objeção de consciência por parte de médicos que se recusem a praticar tais cirurgias (questão que já chegou aos tribunais, tendo um tribunal do Texas reconhecido esse direito dos médicos, numa decisão recente).

As leis que, nos Estados Unidos, impõem a frequência de casas de banho, balneários e dormitórios segundo o “género”, e não segundo o sexo biológico, também se aplicam a escolas não estatais. Há quem tema pela segurança e privacidade, sua e dos seus filhos. Mas também há grandes empresas e organizações, assim como artistas famosos, que boicotam Estados que não seguem tal política Uma controvérsia (a WC War) que nos parece caricata, mas que também já invadiu os tribunais norte-americanos.

Em vários países já foram condenadas várias pessoas (pasteleiros, floristas ou propretários de restaurantes) que, por razões de consciência, se recusam a colaborar  em casamentos entre pessoas do mesmo sexo (sem discriminar pessoas homossexuais noutro tipo de serviços). Há propostas de leis de Estados norte-americanos que pretendem garantir esse direito, em nome da liberdade religiosa e de consciência. Mas tais Estados também enfrentam ameaças de boicote por parte de grandes empresas, o que leva vários políticos a abandonar tais propostas.

Por tudo isto, não será exagero falar em “colonização ideológica”. 

                                                       Pedro Vaz Patto