quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ENCONTROS DO ANO DA FÉ EM VILA REAL

Serões com sabor a fé, tendo como tema os documentos do Concílio e o Catecismo da Igreja Católica

Quartas-feiras, 21h00, no Auditório do Centro Católico de Cultura - Seminário de Vila Real

14 de Novembro: Creio na vida eterna

Ressurreição e Vida Eterna
Algumas considerações sobre as coisas do fim.

No início do mês de Novembro, a Igreja celebra a Solenidade de Todos os Santos e comemora os Fiéis Defuntos. Aproveitei estarmos a viver este tempo litúrgico para restringir o tema do nosso encontro (A Vida Eterna) a duas questões: a Ressureição e o Purgatório.
A escolha da Ressureição deve-se às dificuldades e incompreensões que esta levanta, hoje em dia, nos meios católicos. Também escolhi o tema do Purgatório por estarmos no «mês das almas», tempo em que se coloca a questão da permanência e da transformação dos laços que nos unem aos que já partiram.
Todavia, não se pode abordar estes dois temas sem refletir no Mistério Pascal da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele é a única chave de compreensão e por isso será a primeiro ponto do nosso encontro.

1.      A Ressurreição de Cristo – um foco de luz
Para um cristão, a vida após a morte não é um mito, é uma realidade. É pela fé na Ressurreição de Jesus Cristo que podemos alcançar uma resposta para as perguntas sobre o sentido último da vida. Em Jesus de Nazaré algo de absolutamente novo e impensável realizou-se: "Ele ressuscitou! Ele não está aqui "(Mc 16,6).
Jesus Cristo, o primogênito dentre os mortos (cf. Col 1,18) é o fundamento da nossa esperança de que a vida é mais forte que a morte. A Ressureição de Cristo é um foco de luz que ilumina a vida dos crentes e subverte o sentido da morte porque a partir dela, da Ressureição, a vida e a morte de Cristo entendem-se como uma vida e morte para nós.
Se Cristo não ressuscitou, diz Paulo, a pregação dos Apóstolos é vã (1 Cor 15,14.17). Paulo chama ao Ressuscitado "primícias" dos que morreram. O que aconteceu com Cristo é o penhor e a garantia do que acontece com os crentes. "Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, ainda que morra, viverá" (João 11:25).

2.      A Ressurreição dos Corpos - O que é que ressuscita?
Tal como os coríntios, não conseguimos deixar de nos interrogar sobre a forma de como a ressurreição é possível. Qual é a relação entre o nosso corpo atual e o corpo da nossa ressurreição? Teremos o mesmo corpo ou um corpo diferente?
A melhor resposta poderia ser esta: o corpo é simultaneamente o mesmo e outro.
A pessoa humana é criada por Deus como uma unidade indivisível de corpo e alma. Esperamos a sua reunificação final no último dia, para além da separação física que acontece na morte. Se o corpo é uma parte integral da pessoa humana, uma ressurreição plenamente pessoal deve envolver o corpo e a alma.
Desde São Paulo, na Carta aos Coríntios, até à teologia pós-conciliar e passando pela Soma Teológica de São Tomás de Aquino, a Tradição Católica tenta pensar essa continuidade e essa rutura.
Para São Gregório de Nissa, por exemplo, a alma dá ao corpo uma forma distinta e, tal um carimbo ou um selo, configura o corpo. É pelo meio dessa impressão que o corpo expressa o caráter espiritual da pessoa. Durante a nossa vida terrena, os componentes físicos do nosso corpo mudam várias vezes, mas na medida em que a forma impressa pela alma tem uma continuidade que não é afetada por essas mudanças físicas, podemos realmente dizer que nosso corpo permanece o mesmo. Há uma continuidade corporal genuína dada pela alma.
Na ressurreição, diz São Gregório, a alma vai cunhar o nosso corpo ressuscitado com o mesmo selo com que foi cunhado nesta vida. Não é necessário que os mesmos fragmentos materiais sejam reunidos; o mesmo selo é suficiente para que o corpo seja o mesmo. Entre o nosso corpo presente e o nosso corpo ressuscitado, haverá, de fato, verdadeira continuidade, contudo essa continuidade não deve ser interpretada de forma materialista.
No entanto, se o corpo é o mesmo na ressurreição, também será diferente. Como diz São Paulo: "Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual" (1 Cor 15,44). "Espiritual" aqui não deve ser interpretada como " não material ". O corpo ressuscitado será sempre um corpo material, mas, ao mesmo tempo, será transformado pelo poder do Espírito, e assim ficará livre de todos os limites da materialidade tal como a conhecemos hoje. Conceber as características dessa matéria assumida pelo Espírito está para além do poder da nossa imaginação. «O que nós seremos ainda não foi revelado» (1 Jo 3:2).

3.      A Ressurreição dos que já partiram - o Purgatório e o Corpo Glorioso de Cristo
A tradição da Igreja e o testemunho do Antigo e do Novo Testamentos dizem-nos que a oração pelos mortos é uma expressão de fé que permite aos vivos afirmar que a morte física não é o fim da vida, que há sempre algo para além da morte física (Jo 11, 25-26).
A oração é dirigida a Deus, por todos os mortos cuja fé só Deus conhece (Oração Eucarística IV) por isso não se trata aqui de orar para influenciar a decisão de Deus acerca dos que morrem.
A oração pelos mortos é uma expressão de solidariedade entre os vivos e os mortos, através do único Mediador que é Jesus. Para o cristão tudo é vivido na fé em Jesus Cristo, nada há que possa ser excluído dessa fé, nem mesmo a memória do falecido, cuja vida não é "destruída", mas transformada.
Os laços tecidos entre os crentes, na participação do Corpo e Sangue de Cristo nunca são quebrados pela morte. A oração pelos mortos, permite-nos reavivar esses laços. O fundamento dessa expressão de fé está na Ressurreição de Cristo e na Comunhão dos Santos realizada em Cristo.

Para além dos autores já citados pode-se consultar:
Comisión Teológica Internacional, algunas cuestiones actuales de escatología, 1992
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_cti_1990_problemi-attuali-escatologia_sp.html
Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, carta sobre algumas questões respeitantes à escatologia,1977
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19790517_escatologia_po.html

Henrique Oliveira


28 de Novembro: História da catequese
14 de Dezembro: Apresentação de "Jesus de Nazaré - A infância de Jesus"
2 de Janeiro: Lumen Gentium
23 de Janeiro: Gaudium et Spes
20 de Fevereiro: Dei Verbum
6 de Março: Sacrossantum Concilium
20 de Março: Catecismo da Igreja Católica

Abertos a todos os que quiserem aprofundar a sua fé.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ESTA É A NOSSA FÉ - I


Da Sagrada Escritura, dos Padres da Igreja, dos documentos do Magistério e da vida de muitos que para nós são modelo de fé e de vida cristã, iremos colhendo citações e ensinamentos que nos ajudem a aprofundar a nossa fé.
É mais um contributo para a vivência do Ano da Fé. Publicamos hoje o primeiro texto, sobre o Símbolo da fé (o Credo):
 
«Na instrução e profissão da tua fé, abraça e conserva sempre só aquela que a Igreja agora te entrega e que é fundamentada em toda a Escritura. Nem todos podem ler a Escritura, uns porque não sabem e outros porque estão demasiadamente ocupados. Por isso, a fim de que ninguém pereça por causa da ignorância, resumimos todo o dogma da fé nos poucos versículos do Símbolo.
Conserva em tua memória estas palavras tão simples que ouves agora, e a seu tempo buscarás na Escritura o fundamento de cada um dos artigos. Este símbolo da fé não foi composto segundo o parecer dos homens; as verdades que ele contém foram seleccionadas entre os pontos mais importantes de toda a Escritura e resumem toda a doutrina da fé. E assim como a semente da mostarda, apesar de ser um grão tão pequeno, contém em gérmen muitos ramos, também o símbolo da fé condensa em breves palavras o núcleo de toda a revelação contida tanto no Antigo como no Novo Testamento».
 
(Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo – século IV)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

CREIO EM DEUS, CREIO NA SUA PALAVRA


Iniciamos a publicação de uma série de artigos que têm como finalidade ajudar-nos a viver este Ano da Fé. Como nos diz o Santo Padre, ele «será uma ocasião propícia para introduzir a totalidade da estrutura eclesial num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé» (Carta Apostólica Porta Fidei [Porta da Fé], n.º 4). Com tudo o que ao Ano da Fé está associado (50.º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, 20.º aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica, realização em Outubro do Sínodo sobre A nova evangelização para a transmissão da fé cristã), temos à nossa disposição um grande manancial no qual podemos beber em cada dia deste ano a água viva e sempre fresca da descoberta e seguimento de Cristo.   
Antes de mais, convém lembrar que ter fé implica acreditar em algo ou alguém. Porém, não se trata apenas de acreditar na existência de qualquer ser, mas em apostar tudo em quem (ou naquilo que) se acredita. Assim, ter fé em Deus é acreditar que Ele existe e n’Ele encontramos a razão de ser e o sentido para a nossa vida.
Sabemos tudo isto porque Ele próprio no-lo deu a conhecer, revelando-se, intervindo na nossa história e enviando o seu Filho ao mundo. É o que nos recorda a Epístola aos Hebreus: “Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho...” (Heb 1, 1-2). E por que motivo é que Deus se quis revelar? Responde-nos o Catecismo da Igreja Católica (CIC): “Revelando-se a si mesmo, Deus quer tornar os homens capazes de lhe responderem, de o conhecerem e de o amarem, muito para além de tudo o que seriam capazes por si próprios” (CIC, n.º 52).
Os cristãos também acreditam que Jesus Cristo é o Verbo (a Palavra) que se fez homem  e habitou entre nós (cf. Jo 1, 14), para nos dar a conhecer quem é o verdadeiro Deus e provar o seu amor por nós dando a vida na cruz e ressuscitando. A morte e ressurreição de Jesus constituem o acontecimento mais importante da nossa salvação. Numa síntese antiquíssima que encontramos na 1.ª carta aos Coríntios, S. Paulo diz o seguinte: “Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão. Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Cor 15, 1-4). Na celebração da Eucaristia, os cristãos continuam a professar esta mesma verdade de fé. Depois da consagração, ao convite que lhe dirige o Presidente (“Mistério da fé!”), o povo responde com a aclamação: Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.
Além dos testemunhos bíblicos da fé no Deus revelado por Jesus Cristo, ao longo dos tempos a Igreja foi formulando outros resumos das verdades da nossa fé. O Catecismo da Igreja Católica (Compêndio), no n.º 34, pergunta quais são os mais antigos símbolos da fé. E responde: «São os Símbolos baptismais. Porque o Baptismo é administrado <em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo> (Mt 28,19), as verdades de fé neles professadas estão articuladas segundo a sua referência às três Pessoas da Santíssima Trindade».
A fórmula de profissão de fé que nós conhecemos melhor, porque a repetimos na Eucaristia de cada domingo, é o Credo. Existem duas formas de o rezar. A mais breve é conhecida como o Símbolo dos Apóstolos, assim chamado porque se considera, com justa razão, o resumo fiel da fé dos Apóstolos. É o antigo símbolo baptismal da Igreja de Roma. A sua grande autoridade vem-lhe deste facto: «É o símbolo adoptado pela Igreja romana, aquela em que Pedro, o primeiro dos Apóstolos, teve a sua cátedra, e para a qual ele trouxe a expressão da fé comum»” (CIC, n.º 194; Compêndio, n.º 35).
Eis o texto do Símbolo dos Apóstolos:
Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da Virgem Maria;
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;
desceu à mansão dos mortos;
ressuscitou ao terceiro dia;
subiu aos Céus;
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
de onde há-de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo;
na santa Igreja Católica;
na comunhão dos Santos;
na remissão dos pecados;
na ressurreição da carne;
e na vida eterna. Amen.
 
A forma mais longa é a que nós usamos habitualmente na Missa dominical. Chama-se Símbolo de Niceia-Constantinopla e deve a sua grande autoridade ao facto de ser proveniente desses dois primeiros concílios ecuménicos (dos anos de 325 e 381). Ainda hoje continua a ser comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente” (CIC, n.º 195; Compêndio, n.º 35).
            Neste Ano da Fé, ao rezarmos o Credo, na forma longa ou na mais breve, pensemos bem nas verdades de fé que professamos. E durante o mês de Novembro, o mês das almas, peçamos a Deus que reavive e fortaleça a nossa fé na ressurreição e na vida eterna.